terça-feira, 25 de outubro de 2016

OS VERDADEIROS GLADIADORES ESTÃO FORA DA ARENA

Coluna do Carlos Josias: Diretor Jurídico do Grêmio 93/98, Conselheiro 94/2010 e Vice-Presidente 2005/07













Se alguém não viu o filme THE WAVE - A onda - recomendo que vejam. Além de ser uma obra prima, reflete muito o comportamento humano quanto à sedução pelo fanatismo cego. Resumidamente o cenário é uma instituição de ensino em que no primeiro dia de aula o professor propõe uma discussão sobre Hitler e o domínio dele sobre parte do povo alemão que, seduzido, aderiu sua política sanguinária, sustentando que a adoração que passaram a nutrir por ele não era tão simples de se definir. Em esmagadora maioria os alunos ergueram vozes contra a "fraqueza do povo alemão". A aula termina e a partir dela o professor passa a ensaiar sua tese sem declinar o trabalho que passará a realizar. E, gradativamente, o professor passa a doutrinar seus alunos no sentido de que eles seriam diferentes dos demais da universidade, seriam superiores, mais inteligentes, cultos, bonitos, e que eles deveriam dominar o estabelecimento por suas qualidades e talentos. No seguimento de mais de uma hora de filme que representavam um ano letivo, a crença da superioridade da turma sobre as demais, vira uma religião que os aprendizes passam a se vestir em uniformes e cumprir rituais de aulas com devoção extremada. Na última cena do filme, já completamente cegos e fanáticos, os alunos são convidados pelo professor a assistir uma Palestra daquele que seria seu Grande Líder. Fardados, os alunos vão para o auditório da Universidade e perplexos assistem o início da palestra que nada mais era do que um filme com Hitler proferindo um discurso para uma multidão de seguidores. Cai a ficha. Cai o pano.

A torcida age quase que invariavelmente de forma irracional quando vê futebol. Durante um dia inteiro toda a mídia se ocupou de um clamor popular onde se pedia punição para jogadores de um e outro time que disputaram o Grenal com veemência educadora. Foram brados de justiça, reiteradas lições de moral, dedos em riste apontando crimes e suplicando penas. Estava sob julgamento meninos - esta é que é a verdade - que se engalfinharam numa partida que se joga mais com o coração,a alma e a raiva das ruas do que pela vontade deles.O incêndio vem da arquibancada, como gladiadores no Coliseu. Num lance discutível, com muitos se entrelaçando, socos, pontapés, choros e expulsões, para vibração da plateia que com dedo para baixo passou a pedir do alto de sua sabedoria e conhecimento as penas mais duras.

Pois esta mesma torcida que tão rígida se mantém, na média, com relação aos partícipes dos episódios da partida, tem nas redes um comportamento pior do que os atletas tiveram.

A leitura de uma simples opinião de alguém, numa coluna de menos de 2 mil caracteres, que pode ser conhecida com toda a tranquilidade da casa, do escritório, do ônibus ou da rua, por um PC, note ou celular, com espaços para comentários que podem ser pensados, repensados, e até editados, para que se faça um contraponto sólido, racional, civilizado, ganha a falta de civilidade que algumas paixões provocam. O autor é execrado, ofendido e desqualificado por uma simples e solitária questão:

"divergência".

Quem escreveu THE WAVE, sabia do que falava e tratava.

Saudações Tricolores

 

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