terça-feira, 17 de novembro de 2015

A paixão e a ignorância


Ainda estou atordoado com os acontecimentos do final de semana em Paris. Naturalmente, neste espaço, o assunto é futebol. Mas hoje, vou falar de um assunto que, de certa forma, atinge todos os torcedores de todos os clubes de futebol no Brasil: a intolerância e o radicalismo.

Fomos criados com a obrigação de termos uma bandeira, uma cor, um time. Fomos e somos, nesta hora, segregadores e segregados. Dividimos o espaço, o assunto e a maneira de ver a vida. O futebol, na nossa vida, é a radicalização.

Quando falamos em seleção brasileira, por exemplo, precisamos odiar os argentinos. Todos os dias, escutamos que os brasileiros precisam repudiar "los hermanos". E, quem gosta dos argentinos, critica e "seca" a seleção canarinho para ter a "obra completa". Nos clubes, as saudadas rivalidades históricas são movidas e valorizadas todos os dias. Flamengo e Vasco, Corinthians e Palmeiras, Bahia e Vitória, Grêmio e Inter, Atlético e Cruzeiro são apenas alguns exemplos. Cidades pequenas e clubes menores também convivem com isso nos seus redutos. Assim fomos criados. Temos que amar as nossas cores, mas precisamos, também, odiar as cores do nosso vizinho. Os mais exaltados usam isso como ferramenta de violência, como se na torcida adversária não tivesse nenhum amigo seu. Quanto e quanto caso já tem para dar exemplo...

E o que é isso? Ignorância? Estupidez? Ou nascemos e fomos criados assim?

Pense nas suas atitudes. Você consegue analisar da mesma maneira os erros e os acertos da sua bandeira? Você já cantou gritos ofensivos ao seu adversário? Você já se sentiu ofendido por seu adversário? Que tipo de radical você é? Você defende o quê, exatamente?

O futebol vive da segregação. Talvez esse seja o agente motivador da paixão pelos clubes. Não somos, nesta hora, racionais. E não somos porque não queremos. Queremos segregar. Essa é a nossa cultura, lamentavelmente.

Não tenho, obviamente, a intenção de comparar a paixão pelo futebol com o radicalismo religioso dos episódios de Paris. Quero apenas criar uma reflexão para o tipo de segregação que o futebol traz para o nosso cotidiano.







César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
Share |