segunda-feira, 29 de junho de 2015

Onde está escrito que não podemos?


Vejo claramente uma insatisfação quando se fala que o Grêmio pode ter grandes ambições no Campeonato Brasileiro. Até mesmo internamente eu noto essa, digamos, desconfiança. Tenho visto muitas partidas na competição e absolutamente nenhum time conseguiu empolgar por duas rodadas consecutivas.

A tabela, como sempre, está parelha. Três pontos dividem oito clubes na briga pela liderança. E o Grêmio é um deles. Humilde, quieto, o Grêmio de Roger tem aproveitamento de campeão, mas estamos proibidos de querer alguma coisa. Ao menos é isso que parece.

Esse é um campeonato muito longo e os times mudam muito de momento durante esses 7 meses. Por isso é preciso aproveitar quando as coisas estão dando certo. Quarta-feira, enfrentaremos o professor Luxemburgo na nossa Arena e podemos vencer e ficar mais perto da liderança.

Acredito muito em pensamento positivo. Vamos acreditar, pensar que podemos. Torcer para dar certo. Vibrar com a nossa camisa e com quem a está vestindo. Todos os clubes, absolutamente todos, estão trabalhando para vencer e onde está escrito que não podemos conquistar esse título?

Temos que seguir pensando jogo a jogo, sabendo que teremos algumas derrotas, mas, sobretudo, sabendo que somos e temos as mesmas chances de todos os outros. Eu sempre acredito no Grêmio, mas desta vez vou viver o sonho em capítulos. Quero viver o próximo jogo como o último de nossas vidas. E sempre farei assim durante este campeonato.

Quarta-feira estarei com os meus amigos na Arena e vou torcer e pensar positivo até o último minuto, porque eu sei que o Grêmio não tem limite e ninguém pode dizer onde podemos chegar.
 



César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
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segunda-feira, 22 de junho de 2015

Roger e nosso projeto


Em outubro de 2010 já tínhamos vencido a eleição e o nosso grupo político, o MGI, já tinha decidido quem seriam os membros do departamento de futebol. Antônio Vicente Martins, o nosso vice, deixou claro para mim e para o José Simões que deveríamos trabalhar logo e que não tínhamos nenhum dinheiro para qualquer tipo de investimento. A ideia, entre outras coisas, foi retomar o DNA do Grêmio em todas as áreas possíveis do futebol. Decidimos, então, trazer profissionais com vinculação afetiva com o clube. Foi aí que conheci o Roger.

Pedi ao Marcelo Rospide, meu amigo de longa data e amigo do nosso eterno lateral, para me reunir com Roger. Fomos tomar um café no Barra Shopping e tivemos um longo bate bapo, mas que se resumiu em uma pergunta muito simples:

- Roger, tu queres trabalhar em qual área no Grêmio? Campo ou administração?

Roger, então, ali, já mostrava o tamanho que teria na sua sequência profissional. Ele explicou que estava estudando para ser treinador e que gostaria de seguir dentro de campo. E seguiu dizendo que gostaria muito de trabalhar no Grêmio. Falei pra ele que não sabia qual o cargo ele teria, mas que ele voltaria ao seu clube. Roger disse que não gostaria de viajar porque precisava se formar. Foi então que decidimos que Roger seria o 2º assistente da Comissão Técnica de Renato, abaixo apenas do assistente que trabalhava com o treinador.

Seguimos conversando naquele café e traçamos um breve projeto, cujo futuro seria assumir como treinador do profissional do Grêmio. Roger nos ajudou em todos os momentos que estivemos no clube. Ele seguiu trabalhando no Grêmio, foi demitido em 2013 e foi buscar experiência.

Quando ele estava desempregado, mesmo longe do Pelotas, tentei levá-lo para o áurio-cerúleo quando o clube ainda lutava para não cair. Eu e o então vice de futebol Lucio Barreto nos reunimos com ele mas o pessoal de Pelotas preferiu contratar o Barbieri. Roger então foi para o Juventude e depois para o Novo Hamburgo, retornando ao Grêmio um pouco antes do que havíamos planejado naquele café.

Roger merece todo o sucesso do mundo. Ele está preparado.
 



César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
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quarta-feira, 3 de junho de 2015

O coração de Renato


Estávamos no Chile para uma decisão que valia vaga nas quartas de final da Libertadores de 2011. Precisávamos vencer e o clima não estava dos melhores. Estávamos com alguns desfalques e sabíamos que o jogo seria muito difícil. A história que eu vou contar, no entanto, nada tem a ver com futebol.

Chegamos a Santiago na segunda e o jogo seria na quarta. Na terça à tarde, fizemos um treinamento no local da partida e alguns torcedores do Grêmio foram prestigiar. Alguns chilenos curiosos, alguns gaúchos que moravam lá e alguns torcedores que foram para ver a partida. Cerca de 10 pessoas estavam acompanhando o trabalho. No meio deles um menino com pouco mais de 10 anos e uma câmera fotográfica. O treino terminou, a maioria foi embora e o menino se aproximou e começamos a conversar.

O menino era chileno, filho de um brasileiro e fanático pelo Grêmio. Contou que a sua paixão vinha do pai e que nunca tinha tido a oportunidade de ver o Grêmio de perto. Aos poucos, o menino foi ficando emocionado e nos contou que o pai havia morrido há pouco mais de um ano e o Grêmio o aproximava do seu pai.

Naturalmente ficamos muito sensibilizados com o carinho do menino. Foi aí que chegou o técnico Renato. O menino disse, aos prantos, olhando fixamente para o treinador:

- Pai, ele existe mesmo, disse o menino, como se estivesse falando com a alma do próprio pai.

Renato riu, brincou, fez a alegria do menino, que ficou muito feliz. Todos já estavam no ônibus e somente eu, Renato, Vicente, Simões e o menino seguíamos no campo conversando. O menino, então, nos disse que a câmera dele havia ficado sem bateria e que não tinha como registrar aquele momento. Além disso, não havíamos dado nenhuma lembrança do clube para aquele anjo que apareceu naquele final de tarde no nosso treino. Nos despedimos. O menino, com um sorriso aberto, saiu caminhando pelos campos da universidade e nós fomos para o ônibus.

O ônibus demorou ainda alguns minutos para sair e nós quatro não trocamos uma palavra sequer, como se estivéssemos adormecidos pela história. O ônibus manobrou e começou a sair do complexo. Foi quando Renato deu um grito mandando o motorista parar o ônibus.

- Motora, para aí, para aí. Abre a porta, por favor.

O motorista abriu a porta e o Renato desceu correndo. Ele havia visto o menino, sozinho, voltando para a sua casa com a câmera sem bateria e sem nenhuma lembrança daquele momento. Foi então que ele tirou a própria camisa e deu para o menino. Esse guri pulava e abraçava o nosso treinador como se tivesse ganho um campeonato mundial.

Renato voltou para o ônibus com um sorriso aliviado no rosto.

Perdemos a partida no dia seguinte e fomos eliminados, mas o futebol me mostrou que pode ser muito maior do que uma derrota ou uma vitória e Renato, o ídolo eterno de todos os gremistas, mostrou o tamanho do seu coração.



César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
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