quinta-feira, 16 de abril de 2015

Histórias de futebol: Dormindo no hall do hotel


Oitavas de final da Taça São Paulo. O Grêmio havia garantido classificação e estávamos todos eufóricos. Os jogadores, já concentrados há mais de 20 dias, me pediram, então, uma pequena folga até o final do dia.

Por volta das 17h de um domingo (havíamos vencido às 11h) liberei os atletas com a condição de que chegariam ao hotel, todos, até a meia noite. Fiquei no hotel e como todo dirigente aprendiz, já comecei a imaginar eu tendo que buscar a gurizada na noite em plena Ribeirão Preto. Sou ansioso, confesso.

A noite chegou e nada de nenhum jogador. Por volta das 22h, aos poucos, os atletas foram chegando. A meia noite em ponto, eu, pessoalmente, fechei a porta do hotel. Esperei alguns minutos, e, da recepção, comecei a ligar para os quartos. Os jogadores estavam em quartos triplos, todos no mesmo andar. Fui falando com os atletas até que, em um dos quartos, não atenderam. Esperei um pouco, liguei novamente e nada de atenderem. Fui conferir no andar dos atletas e nada dos três.

 Voltei à recepção e armei uma estratégia para pegar os "sumidos". Peguei um sofá do pequeno hotel em Ribeirão Preto e coloquei exatamente na frente da porta de entrada. Ou seja, para entrar no hotel, teriam que passar por cima do sofá onde eu estaria dormindo.

Fiquei ali, tentando dormir por cerca de uma hora. Lembro sempre que, naquela época, dirigentes faziam múltiplas funções. De segurança a "psicólogo", passando por logística, os dirigentes se viravam. Voltando ao assunto. Por volta da 1h da manhã, escuto um bando rindo sem parar de dentro do hall do hotel, olhando para a cena patética de um dirigente e o seu sofá grudado na porta. Logo vi que eles haviam me pregado uma pegadinha. Assumi o mico, olhei brabo (chorando de rir por dentro) para todos e fui para o meu quarto.

No café todos estavam lá e seguiam brincando com a minha cara. O principal protagonista sentou comigo e me contou. Quando comecei as ligações estavam praticamente todos em um quarto, conversando, e resolveram me "sacanear" deixando um quarto "sem ninguém". Não imaginaram, no entanto, que a minha atitude seria de dormir no hall do hotel, em um sofá grudado na porta.

Demos risada e, principalmente, ganhamos o jogo na quarta-feira.

Fiz grandes amigos nesta época.
 
César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
 
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