quarta-feira, 18 de março de 2015

Um reforço e o ambiente no Grêmio

O torcedor é passional. Um apaixonado contumaz. Ele é capaz de rir e chorar a qualquer momento. Basta que suas cores sejam elevadas ou diminuídas.

O Grêmio recebeu na semana passada o seu principal reforço para a temporada. Cristian Rodriguez é um jogador de Copa do Mundo (duas), ídolo por onde passou e se junta ao grupo tricolor com status de craque.

Nos últimos dez dias tudo parece ter mudado. De virtual rebaixado no Campeonato Brasileiro que ainda nem começou, o Grêmio já parece ter um time forte que pode vislumbrar algo grande neste ano. Quem transita no futebol sabe que o torcedor é assim.

Estive na Arena no domingo junto dos 25 mil torcedores. O ambiente esta melhor, mais arrumado, mais calmo. E o Grêmio, dentro do campo, melhorou, exatamente como haviam planejado os seus dirigentes. Na hora mais importante do Campeonato o time teria algumas reposições e ficaria mais competitivo. E foi isso que aconteceu. Seguimos tendo que ter paciência. O plano é longo e terá, ainda, muito percalços. Assim é o futebol.

Mas o ambiente melhorou e com ele algumas pedras já estão deixando o nosso caminho.

Vamos em frente.


 
 
 
César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense

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segunda-feira, 9 de março de 2015

Histórias de futebol: Ronaldinho e o cofre de moedas do meu filho


Todos sabem que eu participei da tentativa de repatriar o Ronaldinho para o Grêmio no final de 2010. Foi uma longa batalha já muito difundida, falada e conversada. Já contei aqui mesmo toda a história e o que entendi ser o motivo do fracasso na negociação. O assunto de hoje, no entanto, remete ao último dia da negociação e dá um enfoque mais familiar para o triste episódio na história recente do nosso Grêmio.

Depois de meses e meses conversando e negociando com os "Assis Moreira", chegamos ao dia final, o dia que enchemos o saco de tanta desculpa e de tanta enrolação. Era um sábado. Pela manhã, dos EUA, Ricardo Vontobel, então Vice-Presidente, me ligou dizendo que não entendia o que estava acontecendo e que mais uma vez teríamos que rever o contrato. Paulo Odone, minutos depois, me ligou e disse:

- Cesar, acabou. Vamos fazer uma coletiva hoje à tarde e sair desse negócio. Não somos reféns desses senhores.

Fiquei sentado na sala por alguns minutos em silêncio, minha mulher me perguntou o que havia acontecido e eu disse que iríamos, à tarde, desistir de contratar o Ronaldinho. Ela disse:

- Como assim, ontem estava tudo certo. Ontem à noite eles mandaram o contrato.

Respondi, com o olhar longe e sem entender:

- Pois é. Mudaram mais uma vez. E vão mudar outras 100 vezes. Odone está certo. Vou me arrumar e vou pro Grêmio. Parece que a coletiva está marcada para as três da tarde.

Nesse momento, o meu filho mais velho, o Felipe (aquele da bandeira do Grêmio), na época com 8 anos, chegou à sala e perguntou por que eu estava triste. E eu, pacientemente, expliquei pra ele que nós havíamos tentado de tudo para contratarmos o Ronaldinho e que eu estava triste porque tínhamos trabalhado nisso por longos cinco meses e que, no final, não conseguimos efetivar o negócio.

Ele, ali, teve uma reação que me fez (e faz até hoje) refletir sobre o que o futebol tem passado para as pessoas e, em especial, aos mais jovens. O Felipe foi ao quarto e buscou o seu cofre com moedas e disse:

- Pai, pode levar o meu cofre com o dinheiro. Eu ajudo. Mas não sei se vai ajudar. Não tem muito.

Aquilo me demoliu muito mais do que os meses de reuniões e reuniões, contratos e mais contratos, pedidos e mais pedidos. Aquele foi o lance mais duro de todo o negócio. Desde o início eu queria todos entendessem que a contratação de Ronaldinho era muito mais importante (para o Grêmio e Ronaldinho) do que o negócio financeiro entre as partes. E eu não havia conseguido, nem mesmo, convencer o meu filho disso.

Fui para a coletiva e o negócio acabou. E pra mim, o futebol nunca mais foi o mesmo.

Abs
César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
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segunda-feira, 2 de março de 2015

Grêmio e a convicção


Me concentrei para o Gre-nal deste domingo. Estava preocupado com tudo que se dizia, mas convicto de que estamos no caminho certo. Esperava um Grêmio preocupado com a defesa e disposto a contra-atacar. E acertei em cheio. Acredito que o presidente Romildo Bolzan acertou na nova política de futebol. O Grêmio está mais humilde, mas com a sua verdadeira cara. Um time recheado de meninos, muitos com boa qualidade, mas que depende e precisa de suor. O Grêmio do dinheiro, da contratação farta e cara, acabou, graças a Deus. Esse Grêmio atual tem um pouco de todos os seus torcedores e está mais alinhado com o seu histórico de títulos. Esse Grêmio vai precisar trabalhar muito e suar muito para conquistar cada espaço que irá trilhar.
 

As categorias de base sempre revelaram jogadores. A diferença, agora, é que eles tem espaço para mostrar o seu talento. Precisamos de reforços? Claro! O presidente, inclusive, confirmou que nesta semana teremos boas novidades. Uma, pelo que me contaram, dará muitas alegrias ao torcedor mesmo antes de jogar. Esses jogadores entrarão em um contexto diferente. Serão peças importantes e serão recebidos por um ambiente sadio, o que é meio caminho andado.
 

O Grêmio mudou pra melhor. No final do jogo de ontem, passei a ver as coisas ainda mais claras. Dos quatro meninos que atuaram, três são atletas que jogam ou jogaram nas seleções de base (Mamute, Wallace e Lincoln). Temos ainda Ramiro e Luan, lesionados, e que irão ajudar muito. Ou seja, o Grêmio está formando um time jovem e com identidade. Além disso, um time que representará financeiramente cerca de 25% do custo dos últimos times formados pelo clube.
 

Se querem politizar, politizem. Eu não estou falando de política. Estou falando de futebol, de gestão. O Grêmio acertou os trilhos e vai dar certo. Manter o bom ambiente, os principais profissionais, é fundamental. Teremos, ainda, muitos altos e baixos e precisamos ser fortes. Os profissionais que lá estão, principalmente Rui Costa e Felipão, ainda sofrerão muitas críticas e nós, que sabemos o caminho que o Grêmio começou a trilhar, teremos que nos manter fortes na linha de defesa. Essa é a nossa contribuição.
 

O segredo nas relações humanas é respeitar opiniões. Respeito todas. Escuto e converso com todo mundo. A política, diz um querido amigo, se faz assim, ouvindo, discordando ou apoiando. Tenho as minhas convicções e, mesmo respeitando o contraditório, vou lutar por elas.
 
Espero que muitos se juntem nesta batalha que o Grêmio começa a enfrentar. O clube vai precisar muito da força de todos.

Abs.

César Cidade Dias
Ex-Conselheiro e ex-Diretor de Futebol do
Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense
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