sábado, 25 de dezembro de 2010

Amor Imortal!

Era noite do dia 14 de setembro de 1990, quando a mãe de Juninho entrou em trabalho de parto. Na pressa, misturada à preocupação e à alegria pelo nascimento do primeiro filho, o pai de Juninho nem percebeu a data e saiu em disparada com a esposa para o hospital. Foi lá, após algumas horas, que Juninho nasceu. O relógio marcava 5h da manhã do dia 15 de setembro quando o garoto veio ao mundo.
Juninho ganhou este apelido justamente por ter o mesmo nome do pai, um apaixonado por futebol e pelo Inter, que só no dia seguinte ao nascimento do filho, percebeu que ele havia vindo ao mundo no mesmo dia do aniversário do maior rival do seu time de coração.
Mesmo assim, não perdeu a convicção de que iria passar toda sua paixão pelo Inter, ao primogênito. Sendo assim, Juninho cresceu recebendo presentes e mais presentes relacionados ao esporte. Seu pai sempre dizia: “Esse guri vai ser que nem eu, apaixonado pelo colorado”. E assim, vivia ganhando camisas, bolas e outros brinquedos. Tudo em vermelho e brando.
Mas por algum motivo, que seus pais não entendiam, se recusava a usar os brinquedos. Quando tentavam colocar uma camiseta vermelha nele então, gritava, chorava, esperneava como só uma criança sabe fazer muito bem. Até que desistiam. E assim Juninho ia crescendo, intrigando aos próprios pais.
Até que em 1994, na festa de aniversário de quatro anos de Juninho, seu tio lhe deu um presente que simplesmente mudou sua vida. Tudo bem que uma bola não merece um status tão importante assim, mas as cores que ela carregava, realmente mexeram com Juninho. O tio, gremista (o único da família), já havia percebido a aversão do garoto às cores do rival e resolveu arriscar, mesmo sabendo que os demais não aprovariam a iniciativa.
E foi o que aconteceu. Quando Juninho abriu o pacote e viu a bola nas cores azul, branco e preto, sorriu. O silêncio reinou no pequeno salão de festas da família. Apenas duas pessoas sorriam: Juninho, feliz da vida com o novo presente, e o tio.
O pai, em uma última tentativa, ainda desesperada, pegou outro brinquedo e tentou convencer Juninho a largar a bola nas cores do Grêmio. Mas não teve jeito.
E a partir dali, Juninho passou a se interessar pelo futebol. Primeiro, como qualquer outra criança, era só os chutes no pátio de casa. Volta e meia acertando um vaso de flor ou o vidro de uma janela, levando sua mãe à loucura. Mas quem sofria mesmo era seu pai. Simplesmente não entendia como aquele menino podia torcer pelo maior rival do seu time, depois de todo o esforço empreendido para torná-lo colorado.
Nos anos seguintes a coisa foi piorando (ou melhorando). Com as conquistas tricolores, Juninho mostrava cada vez mais o amor pelas três cores do time da Azenha, enquanto o pai sofria dobrado: pela terrível fase do seu time e por ver seu filho torcendo pelo rival.
E foi no final da década de 90 que Juninho conheceu seu grande ídolo no futebol. Um garoto dentuço, magrelo, mas com uma habilidade impressionante com a bola nos pés. A partir daí o nome desse jogador era o que mais se ouvia na casa de Juninho. “Lá vai Ronaldinho, passou por um, por dois, driblou o goleiro, chutou, é gooooooooooool do Grêmioooo”, gritava enquanto chutava a bola de um lado para outro.
O encanto do garoto para com o jogador era tão grande que emocionou até o pai. E no Natal de 1999, Juninho voltou a ser surpreendido por um presente. Das mãos do seu pai, colorado, recebeu um pacote. Ao abrir, lá estava ela: a camisa 10 tricolor. Aquela mesma que Ronaldinho havia usado para humilhar Dunga em um Gre-Nal na final do Gauchão daquele ano.
Juninho quase explodiu de alegria. Abraçou o pai, que estava um tanto sem jeito por ter que presentear o filho com a camisa do rival, e saiu correndo pela casa. Voltou já vestido com a camisa do Grêmio e com a bola na mão.
Juninho lembra até hoje daquele Natal. Lembra-se de 2004, quando sofreu ao ver o seu time ser rebaixado, e falou para seu pai: “Não adianta pai, eu nasci gremista e nada vai mudar isso”. Era a resposta ao apelo oportunista do pai, para aproveitar a má fase do Grêmio e “virar a casaca”.
Hoje, 11 anos depois, também em um natal, lembra da dificuldade de ver o maior rival ganhar os mesmos títulos que seu tricolor já tinha há muito tempo. Mas carrega dentro de si, o sentimento de que neste Natal, vai ganhar mais uma vez um presente que vai mudar sua vida, pois tem certeza que seu maior ídolo, o melhor jogador que ele já viu jogar, vai voltar para o seu time do coração e nos próximos anos o Grêmio vai reencontrar as grandes conquistas.
Juninho lembra também da forma como Ronaldinho saiu do Grêmio, mas é nessa hora que ele para e pensa. E a certeza volta: “a gente nasce gremista e isso nunca vai mudar. O Ronaldinho é gremista e é por isso que ele vai voltar”. Afinal, o amor por esse clube, é como o próprio clube, IMORTAL!

Pedro Gonçalves, Nasci e morrerei amando o meu tricolor 
@mrgomelli seguidor do @gremio100mil
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